Em O Evangelho Segundo Jesus Cristo, José Saramago apresenta uma obra ambiciosa e controversa, que reinterpreta a vida de Jesus de Nazaré sob uma ótica humanista, retirando-o do pedestal divino e explorando-o como um homem profundamente consciente de suas dores, desejos e fragilidades. Saramago parte de uma premissa ousada: questionar as noções convencionais de fé e o papel de Deus, propondo uma narrativa onde Jesus se vê como uma peça manipulada por uma divindade que anseia pelo poder e pela submissão dos homens. Essa visão coloca Jesus em constante confronto com seu destino, culminando em uma releitura do sacrifício na cruz que enfatiza o conflito entre o livre-arbítrio e a imposição divina. A escrita de Saramago é carregada de sua marca registrada, com longos períodos e a falta de pontuação convencional que, embora desafiem a leitura, criam um ritmo quase hipnótico, imergindo o leitor nos dilemas do personagem. Esse estilo, aliado à densidade dos temas, exige uma leitura cuidadosa, mas recompensadora. O autor, ateu convicto, constrói uma obra que reflete suas críticas à religião institucionalizada, o que gerou enorme polêmica, especialmente em países de tradição católica. Ao humanizar a figura de Jesus, Saramago convida o leitor a refletir sobre as implicações éticas e filosóficas de uma fé inquestionável e o impacto da religião na trajetória da humanidade. Esta obra, portanto, não é apenas um romance sobre a vida de Jesus; é uma provocação que convida a uma análise profunda sobre a espiritualidade, a moralidade e o destino humano.
Romance magistral e polêmico do Prêmio Nobel de Literatura de 1998. "O filho de José e de Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo de sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo." Todos conhecem a história do filho de José e Maria, mas nesta narrativa ela ganha tanta beleza e tanta pungência que é como se estivesse sendo contada pela primeira vez. Nas palavras de José Paulo Paes: "Interessado menos na onipotência do divino que na frágil mas tenaz resistência do humano, a arte magistral de Saramago excele no dar corpo às preliminares e à culminância do drama da Paixão". A caligrafia da capa é de autoria do fotógrafo Sebastião Salgado.